domingo, 5 de agosto de 2007

Antes de SandyeJúnior virar definitivamente (?) Sandy e Júnior

Carlos Lustosa Filho
Coluna semanal de domingo, dia 05/08/2007

Engraçado, me veio à cabeça a idéia de falar do MTV Sandy & Junior outro dia. (Gargalhada). É engraçado porque acho que nunca vi uma coluna mais ou menos séria (e é o que esta se propõe a ser, ou ao menos tenta hehehe) falar de Pop – a não ser que seja Prince, Madonna, Jackson ou esses bam-bam-bans que há séculos estão no showbizz. Ah, e não venha dizer que você não gosta de pop, que o pop é música comercial, coisa de alienado e aquelas coisas todas... não vou nem entrar nessa questão. E recomendo consumo de pop em doses normais (É muito mais engraçado que esse desejo repentino de falar sobre Sandy e Júnior o preconceito tacanho de achar que música “de festa” – não encontro outra denominação – como pop, eletrônica, forró, axé, sei lá o que mais, não pode ser bem feita, criativa ou inovadora... enfim, esses estigmas bobos – no pior sentido da palavra – que perseguem esses estilos musicais que como se pensa são “mais fáceis de fazer”).

O espaço pra se falar seriamente de pop nacional então, é quase inexistente, no meu entender. Porque se o pop mundial é sempre “uma porcaria”, o nacional então, é um sacrilégio! Eu acho interessante entender que nós temos pop sim, e pop bom. Ou você acha que o ‘P’ de MPB é outra coisa? Jorge Vercilo, Luciana Mello ou mesmo Djavan são muito pop, no meu entender do que essas três letras significam (Kelly Key, já é outra coisa... ).

Bom, mas vim pra falar de Sandy e Jr, não do pop nacional (que engloba outras coisas como Skank e Jota Quest – assumidamente pops - ou mesmo o Capital Inicial que é um pop enrustido – bicho, é esse bem o nome; não devemos esconder toda a história da banda e a importância no BRock, mas pelo menos o Dinho Ouro Preto quer ser quase, um heavy metal xiita fundamentalista, algo que acho que ele não é... sim, vamo voltar pro SandyeJunior que é menos estressante...)

SandyeJúnior, ou melhor, Sandy e Júnior – separado – estão em processo de divórcio na carreira musical, ou um afastamento (cês acham mesmo que dois irmãos vão deixar de trabalhar juntos, alguma vez? Vide os Caymmi...). Isso vocês já sabem. Sabem também que o acústico MTV vai ser o derradeiro, último, gran finale, pé-na-bunda-saideira-expulsadeira-etc-e-coisas-afins álbum juntos dos irmãos Lima (tem um grupo com um nome parecido, né?). Bom, esse trabalho começou assim: a dupla anunciou o fim da carreira em abril (mais ou menos, não lembro direito), o show foi gravado em junho último, e lançado (oficialmente, sem contar os vazamentos) em agosto.

Bicho é complicado falar de um artista que cresceu junto com você, e é o meu caso (tenho a idade da Sandy – certas coisas você não esquece...). Lembro muito (sem nostalgia, acredite) deles cantando Maria Chiquinha, Power Rangers, um pout-pourri do Beegees (que todo mundo nascido depois d’Os embalos de Sábado à noite’ escutou).



Ó a Maria Chiquinha...



Já que toquei nesse assunto, outro dia me lembrei do trecho da música dos Titãs “A melhor banda de todos os tempos da última semana” (do disco homônimo) que diz: “A melhor banda de todos os tempos da última semana/ o melhor disco brasileiro de música americana/ o melhor disco de todos os anos de sucessos do passado / o maior sucesso de todos os tempos entre os dez maiores fracassos” – desculpem se erro na letra, mas quero só trazer à tona um dado que todo mundo percebe: o sucesso de Sandy & Junior se baseia basicamente em regravações e versões de sucessos. Vejamos o acústico, das 21 músicas do CD, seis pelo menos são versões/regravações: No fundo do coração (Truly, Madly, Deeply do Savage Garden – essa banda tem um ótimo nome pra motel, hehehe), Inesquecível (Incancellabile/Inolvidable da Laura Pausini, se bem que a italiana já tinha gravado a versão em português no seu álbum “La mia resposta”), Quando você passa (Turuturu com a qual Francesco Renga e Giada, ganharam o terceiro lugar caategoria jovem no tradicional festival de San Remo), Com você (I’ll be there dos Jackson 5), Enrosca (que ficou famosa com Fábio Júnior) Super-Herói (do cantor Five for Fighting – nominho esquisito...).

Parêntese: vocês se lembram que em 2002 a dupla tentou engrenar uma carreira internacional? Uma música dessa fase também está no MTV: “Love never fails”, praticamente um blockbuster que teve versões em espanhol, francês, acho que até em português, brincadeira, mas só esse lance do português. Dessa época êxito mesmo eles só conseguiram de verdade na América Latina, até onde eu sei, eles foram muito bem no Chile. Mas como vocês sabem, de resto, não vingou.

Mas isso de regravar, fazer versões é natural, pelo menos desde que a indústria fonográfica existe. Aliás, isso é anterior À indústria desse tipo de arte-produto. Há relatos de que já se traduzia ditos populares de uma língua para outra há séculos, da Espanha para Portugal, por exemplo – não lembro o exemplo agora, me desculpem – por isso acho que com as músicas folclóricas não deve ter sido muito diferente. E praqueles que acham que isso só acontece no Brasil, deixe-me lembrá-los que a Bossa conquistou o mundo sendo cantada numa versão em inglês, o Reginaldo Rossi canta versões de músicas francesas e, pra não me estender muito, até o bom-chibom-chibom-bom-bom teve versão castelhana... (es que el de arriba, sube / y el de abajo, cae – algo assim). Também não vou falar de coisas tristes como uma versão de New York, New, York cantada em francês que escutei outro dia... ou de versões bacanas como “Não chores mais” que o Gilberto Gil fez pra música do Bob Marley. O fato é que, na minha modesta e sempre ácida opinião, a versão original é na imensa maioria das vezes melhor que sua pantomima. (Bicho, lembrei agora dessas bandas de forró que só vivem de versões, se não me engano uma das primeiras com isso foi a Limão com Mel (vou lembrar/ nosso amor para sempre, vou lembrar) , depois a Baby Som (meu grande amor/ minha estrela e o meu céu/ vem por favo-o-or/ eu quero provar do teu mel/ oh, meu grande amo-o-or (3X) – desculpem, não resisti... hahahahahashsahashash). Mas isso não quer dizer que ninguém deva regravar ou fazer versões. Eu, sinceramente, gosto desses álbuns de “som do barzinho” principalmente naqueles onde há interpretes que reinventam a música, seja versão ou regravação.

Me estendi pra voltar à Sandy e Júnior (ou me desviar deles... hehehe, brincadeira) e dizer que assim, o acústico MTV deles não figuraria nos meus discos – até porque já passe da idade e do peso (como diria o Faustão) para escutar a música da dupla, mas devo aplaudir a iniciativa dos dois irmãos em querer modificar ou melhor, fazer uma releitura da carreira. Ou melhor ainda, se refazer para tentar se lançar em carreira solo com sentimento de missão cumprida e negando a repetência da fórmula (versão, regravação, músicas melosas de forte apelo comercial) que eles tanto usaram a carreira toda (em menor grau nos últimos - três? - anos, eu diria, dando o braço a torcer).

Os dois estão juntos (desde que o Júnior nasceu, óbvio) há 17 anos para cantar. Já juntaram milhões, ganham mais dinheiro que o pai Xororó há tempos, devem ter suas fazendinhas de gado com milhares de reses que eliminam gases e contribuem para o aquecimento global como dezenas de outras, enfim, já tão tranquilões em relação a grana. O que eles querem agora é ser reconhecidos pelo que fazem desde pequerruchos: música. Off: o Juninho tá com a banda Soul Funk (que deu um tempo pra ele sair com a irmã para a missão final da dupla e que curiosamente tem um repertório senão totalmente ou ao menos majoritariamente cover). Sandyzinha peleja nos palcos de casas grandes como o Credicard Hall fazendo concertos – sim, porque isso não é show (maldade gratuita... heheeh) – cantando repertório “adulto” – até canto lírico, é mole? – e caprichando na técnica para ser reconhecida como cantora mesmo. Os dois estão tentando e tudo indica que conseguirão ser músicos de verdade, independentes de marketing, tramóias econômicas midiáticas e das fórmulas (batidas) que eles usavam. O acústico pode ser o registro dessa passagem.

Sandy está mais contida na interpretação, não diria minimalista (tá meio longe), mas não faz tantos aqueles melismas costumeiros. O Júnior se arrisca a compor, canta, tem o dedo na produção dos arranjos além de tocar. Os fãs puristas talvez não gostem, mas muitas músicas estão completamente diferentes, com ritmos diferentes, como “Super-Herói” ou “Ilusão”; algumas passagens melódicas também foram modificadas. São realmente re-leituras. Tem música que acelerou, outra que tá com pegada de reggae e até a manjada “Enrosca” virou um bluszão da pesada com a participação de Ivete Sangalo – acusada, certa feita, de pedofilia por supostamente ter dado uns pega no Júnior (fofoca pra não perder o humor maldoso, hehehe).

Sim, participações. Além da baiana, o hermano-mas-dando-um-tempo Marcelo Camelo aparece cantando “As quatro estações”. Me perdoem a má palavra, mas foi um puta susto, de cair da cadeira. Parêntese: a canção começa totalmente Los Hermanos, inclusive harmonicamente, como se fosse uma das paradonas do álbum Quatro – será uma referência sem graça? – e depois vai pro rumo da animadinha versão do S&J – não consigo nem ouvir de tão pasmo que fiquei – será que ele se arrepende? Acho que não... (Pensei numa coisa agora... será que ele quer dar uma de Caetano Veloso? O será a Sandy que quer dar uma de Maria Rita e gravar música do hermano?) Mais esperto foi o Lulu “I fuck hate rock’n’roll” Santos que está na faixa “Você pra sempre (Inveja)” mas só tocando (!?).

O CD está também com três faixas inéditas. Eu destaco pelo simbolismo, a música composta pelo Junior: “Segue em frete” que fala de mudanças e tal; é um recado. As outras são “Abri os olhos” e “Alguém como você”.


Música nova "Alguém como você" no fantástico



Finalizando, os fãs deverão gostar e entender a mensagem que a dupla quer passar. Eles não negam o passado ou tudo o que foram (cantam até a Maria Chiquinha!) mas querem mostrar essa transição da sua música, uma ruptura nada abrupta, bem suave, talvez querendo que seus fiéis amantes os sigam nas próximas caminhadas. Sandy e Júnior querem, sobretudo, mostrar que cresceram e serem encarados como tal. Resta saber se os fãs crescerão junto e crítica vai vê-los de forma séria. O fato inegável é que eles estão tentando.

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Como achava que ia falar mal da dupla, pedi pra minha amiga Biá Boakari pra escrever uma crítica positiva, pra balancear. Então vamos à ela:
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Dando adeus a Genaro e Maria Chiquinha
Biá Boakari - para a Música

Juntos, Sandy & Júnior conquistaram milhares de fãs, de todas as idades e classes sociais. Agora, a dupla lança o cd MTV Acústico e se prepara para dizer adeus. Não, eles continuarão na música, só não serão mais “Sandy & Júnior”.

O cd acústico é uma despedida: dos fãs, da dupla, da segurança que trabalhar sempre no mesmo ritmo traz.

Se a maioria das canções são regravações, elas contam a história da dupla, começando pela faixa escondida, “Maria Chiquinha” (mesmo sendo alvo de piadinhas, a maioria das pessoas entre 20 e 24 anos já mandaram Genaro ir passear), passando por sucessos mais recentes, como “Inesquecível” e arrasando ao dar novas roupagens a músicas como “Enrosca”.

De inédito, somente “Alguém Como Você”, “Segue Em Frente” e “Abri os Olhos”. De bom, todas as músicas do álbum.

Júnior finalmente se afasta do microfone e curte os instrumentos, Sandy parece ter aprendido a usar sua voz com mais firmeza; infelizmente, os “uhhs” e “ooohss” continuam sendo dispensáveis.

O Acústico MTV é uma ótima maneira de se despedir de Sandy & Júnior, e, quem sabe, dar as boas vindas ao que vem por aí desses dois músicos tão talentosos.
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Achei a minha mais positiva ainda que a da Biá... hehehe

2 comentários:

Natacha disse...

eu to...tipo assim...passada...
não sabia dessa fanzice de vcs pela sandyxunior, não...
mas admito...vou comprar o acústico. pirata, mas vou, hihihihihihih

O nome do blog é inspirado no filme "Bonequinha de Luxo" disse...

eita!! que tu quaseeeee não falou de sandy.. huauhahuahu.. =***